terça-feira, 27 de abril de 2010

Charity shops

À volta da minha casa, num espaço de dois quarteirões, há, pelo menos, umas cinco lojas de caridade. Estão por todo o lado, um pouco como as lojas de chineses em Portugal (e que aqui não se encontram). Custa a crer que nunca nos tenhamos lembrado disto. As lojas aceitam as dádivas de particulares (que já estão fartos de ter aqueles trastes lá em casa) e empresas (que não conseguem vender aqueles artigos nem por nada) e vendem de tudo e mais alguma coisa para apoiar uma causa. Roupas usadas, sapatos, malas, brinquedos, louças, livros, cassetes de vídeo, discos de vinil, máquinas de escrever, móveis, bugigangas e tudo o mais que alguém se tenha lembrado que afinal já não precisava lá em casa. Pelo menos será útil a outro alguém. E é uma óptima forma de comprar coisas em bom estado por um preço muito económico. Confesso que sinto o impulso de entrar frequentemente nestas lojas. Há novidades todos os dias e nunca se sabe se se irá encontrar uma pechincha. Ou descobrir que, afinal, alguém não gostou do presente que lhe demos.
Esta semana comprei numa destas lojas umas canecas muito catitas. Cheguei a casa, abri o armário e tirei de lá outras que ninguém usava. Pu-las num saco e no dia seguinte fui entregá-las à mesma loja. Passei lá hoje e fiquei contente por ver que alguém gostou delas e as comprou. Devia era ter avisado os compradores que as canecas saem do microondas a escaldar.

domingo, 25 de abril de 2010

Saudade

A viagem estava marcada há bastante tempo. O casamento do meu irmão era a 17 de Março, eu viajava com as crianças em direcção a Espinho no dia 11, e o T. juntava-se a nós no dia 16. O facto de não gostar de separações e de não saber o que me esperava numa viagem de avião com duas crianças irrequietas deixou-me um pouco angustiada. Mas foi mais fácil do que esperava. Os pequenos divertiram-se muito com os avós e os tios e eu matei saudades deles e da minha terra. Encontrámos bom tempo, sem nortada, e fomos muitas vezes à praia. O D. perdeu todo o medo da areia e ficou com as mãos mais morenas do que eu alguma vez ficarei no fim do Verão. A L. e eu molhámos os pés (e as calças e os vestidos e as cuecas) no mar azul e surpreendentemente ameno. Também comemos muitas coisas boas - incluíndo o D., que aprendeu que a comida dos crescidos pode ser melhor do que a dele.
A meio da primeira semana, a notícia de que os voos estavam a ser todos cancelados veio atrapalhar os nossos planos. Não só porque o T. provavelmente não ia poder viajar na data prevista, como não poderia ir ao casamento, nem levar-nos todas as nossas roupas e sapatos de cerimónia que ficaram devidamente preparados numa mala. Lá fomos, no dia anterior ao casamento, comprar tudo a dobrar em tempo recorde. Ainda tivemos esperança que o T. se juntasse a nós, mas não foi possível. O casamento acabou por correr bem, apesar de o nosso pensamento estar com o meu avô, muito doente. A L. portou-se lindamente no seu papel de menina das alianças e eu adorei ouvir toda a gente dizer que ela está cada vez mais parecida comigo.
Abertos os aeroportos, decidi remarcar a viagem de regresso para ontem. Fiquei com vontade de ficar mais tempo, mas o T. não aguentaria de saudades nem de solidão. Felizmente ainda tive tempo de dizer Adeus ao meu avô L.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Polite notice

Avisam-se os leitores assíduos deste blog que a sua autora se encontra retida, contra a sua vontade, em terras lusas e sem data de regresso à sua casa londrina - onde seu marido pena, sozinho. Pede-se aos interessados que dirijam todas as suas reclamações ao sr. Eyjafjllajokull. Santinho.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Van Gogh

Sempre que penso em van Gogh, lembro-me do episódio triste que marcou a minha visita ao Van Gogh Museum em Amesterdão em 2002: ao fim de três quadros, a minha enxaqueca arrastou-me para a casa-de-banho e só saí de lá para me sentar num banco, branca como a cal, enquanto o T. acabava de ver o museu.
Esta manhã, quando planeava a minha visita à Royal Academy of Arts para ver a exposição The Real Van Gogh: The Artist and His Letters, desconfiei que as coisas iam começar a correr mal outra vez. Depois de levar a L. à escola, tive de ir com o D., que acordou doente, ao centro de saúde. A médica pareceu-me fazer um diagnóstico um pouco apressado, mas voltei a casa na esperança de que ela esteja certa: a febre e a rouquidão hão-de passar por si. Voltei a sair para ir à exposição. Enquanto caminhava na direcção da paragem perdi dois autocarros. Quando chegou o terceiro, percebi que me tinha esquecido do cartão. O motorista disse que não tinha troco para as minhas 10 libras. Tive de sair do autocarro e comprar um cartão novo. Apanhei o autocarro seguinte já 3 horas depois do meu plano inicial, mas não desisti.
Woman peeling potatoes, 1882
Cheguei à Royal Academy of Arts, em Piccadilly, sabendo que a exposição tem tido filas de 2 e 3 horas para comprar bilhete. Procurei o fim da fila que se encaracolava no pátio e perguntei ao segurança o tempo previsto até chegar às bilheteiras. «Pelo menos 2 horas». Até que um rapaz que tinha chegado ao mesmo tempo que eu me pergunta: «Are you here alone?» «I'm waiting for my husband» (o que era verdade, embora apenas uma hora depois). «What a shame, I have my mother's card to get in, but I need someone to pretend to be her». Foi música para os meus ouvidos. O T. não teria tempo para ver a exposição de qualquer maneira. Então aceitei o convite daquele desconhecido. Por dois minutos fui a Mrs. Robertson, passei à frente de toda a gente na fila e entrei acompanhada na exposição. Depois de algumas perguntas de circunstância, o Mr. Robertson despediu-se com um «Nice to meet you» e fomos cada um para seu lado ver a correspondência de Van Gogh, ao lado de pinturas e desenhos extraordinários.
Fiquei a pensar que se o meu dia tivesse começado bem, teria estado mais de duas horas numa fila e não teria apreciado a exposição como apreciei.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Trocas e baldrocas

Gosto muito da sensação de ir às compras e de o gasto não ser definitivo. Quero dizer, quando me arrependo de ter comprado alguma coisa, posso trocá-la ou ser reembolsada do seu valor sem ninguém me perguntar porquê. Mas há uma coisa que me intriga. Quando troco ou devolvo alguma coisa, porque é que me perguntam sempre o nome e a morada? E porque é que tenho de assinar um papel? Se nem o bilhete de identidade é obrigatório aqui, porque é que tenho de me identificar numa transacção tão simples?
Noutro dia perguntei numa loja para que é que precisavam daquilo, afinal estava apenas a trocar o tamanho de umas calças. A resposta não me elucidou: «Política da casa.» Quando levantei as sobrancelhas como quem diz «E?...», ela acrescentou: «Penso que é para terem a certeza de que quem faz a troca são pessoas reais.» É muito provável que esta tenha sido uma desculpa esfarrapada, mas fiquei a pensar: E o que haveriam de ser? Fantasmas? Porque é que para comprar alguma coisa posso não existir, mas para trocar um artigo já tenho de ser alguém? O melhor é para a próxima pedir que me toquem para se certificarem.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sagres














Jantar de domingo à noite no Sticky Fingers, o famoso restaurante do Bill Wyman, antigo baixista dos Rolling Stones.

Somerset House














Aproveitando os feriados de sexta e segunda-feira e a visita da tia P., passámos um fim-de-semana calmo, entre exposições, passeios a pé e parques infantis. De todos os programas, elejo o melhor: a visita à The Courtauld Gallery, na Somerset House. Uma grande e agradável surpresa.
A Somerset House é um edifício enorme, neo-clássico, situado entre o Strand e o Tamisa. Foi neste mesmo local que se construiu em 1547 uma grande casa para Edward Seymour, Duque de Somerset. A casa teve diversas utilizações ao longo dos tempos, incluíndo, em 1685, servir de residência permanente a Catarina de Bragança, após a morte do marido, Charles II. Seria a última rainha a habitar o palácio, que seria demolido em 1775 para dar lugar ao edifício actual.
A Somerset House tem sido ocupada por várias instituições, entre elas a Royal Academy of Arts ou o Inland Revenue. E alberga actualmente a Courtauld Gallery, cuja colecção foi iniciada nos anos 1930 por Samuel Courtauld. A colecção permanente da galeria é uma das mais importantes na Grã-Bretanha. E descobrimos porquê. Com obras desde o Renascimento ao século XX, a colecção inclui obras de Kandinsky, Monet, Renoir, Seurat, Gauguin, van Gogh, Manet, Cézanne, Degas, Rubens, Botticelli, Brueghel... Quando achamos que não pode melhorar, descobrimos outro quadro noutra sala que nos surpreende.
Mesmo de barriga cheia com tanta arte, não resistimos no final a um típico lanche britânico no acolhedor café da galeria. Lá estávamos, por volta das cinco, a beber chá e a comer scones antes de regressar a casa.