sexta-feira, 9 de abril de 2010

Van Gogh

Sempre que penso em van Gogh, lembro-me do episódio triste que marcou a minha visita ao Van Gogh Museum em Amesterdão em 2002: ao fim de três quadros, a minha enxaqueca arrastou-me para a casa-de-banho e só saí de lá para me sentar num banco, branca como a cal, enquanto o T. acabava de ver o museu.
Esta manhã, quando planeava a minha visita à Royal Academy of Arts para ver a exposição The Real Van Gogh: The Artist and His Letters, desconfiei que as coisas iam começar a correr mal outra vez. Depois de levar a L. à escola, tive de ir com o D., que acordou doente, ao centro de saúde. A médica pareceu-me fazer um diagnóstico um pouco apressado, mas voltei a casa na esperança de que ela esteja certa: a febre e a rouquidão hão-de passar por si. Voltei a sair para ir à exposição. Enquanto caminhava na direcção da paragem perdi dois autocarros. Quando chegou o terceiro, percebi que me tinha esquecido do cartão. O motorista disse que não tinha troco para as minhas 10 libras. Tive de sair do autocarro e comprar um cartão novo. Apanhei o autocarro seguinte já 3 horas depois do meu plano inicial, mas não desisti.
Woman peeling potatoes, 1882
Cheguei à Royal Academy of Arts, em Piccadilly, sabendo que a exposição tem tido filas de 2 e 3 horas para comprar bilhete. Procurei o fim da fila que se encaracolava no pátio e perguntei ao segurança o tempo previsto até chegar às bilheteiras. «Pelo menos 2 horas». Até que um rapaz que tinha chegado ao mesmo tempo que eu me pergunta: «Are you here alone?» «I'm waiting for my husband» (o que era verdade, embora apenas uma hora depois). «What a shame, I have my mother's card to get in, but I need someone to pretend to be her». Foi música para os meus ouvidos. O T. não teria tempo para ver a exposição de qualquer maneira. Então aceitei o convite daquele desconhecido. Por dois minutos fui a Mrs. Robertson, passei à frente de toda a gente na fila e entrei acompanhada na exposição. Depois de algumas perguntas de circunstância, o Mr. Robertson despediu-se com um «Nice to meet you» e fomos cada um para seu lado ver a correspondência de Van Gogh, ao lado de pinturas e desenhos extraordinários.
Fiquei a pensar que se o meu dia tivesse começado bem, teria estado mais de duas horas numa fila e não teria apreciado a exposição como apreciei.

2 comentários:

  1. :) e foi, de certeza, um tempo bem passado!
    Espero que o D. esteja melhor.

    Beijos,
    Isabel

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  2. É um bom exemplo para aquilo que tenho como lição para mim: quando achamos que a vida nos está a pregar rasteiras...está simplesmente a reservar-nos boas surpresas! Na verdade, é realmente sábia!É certo que às vezes dava jeito uns atalhos mais 'polidos'!!!!
    Bjs

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